quinta-feira, 19 de agosto de 2010

PROJETO: “AS DIVERSAS FACES DE CRISTO”



Objetivando socializar nossas experiências com Arte e Educação apresentaremos uma série de Atividades/Projetos/Experiências desenvolvidos com nossas turmas de Ensino Fundamental - 6º ao 9º ano - do CODAP - Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe. As experiências aqui apresentadas foram desenvolvidas entre os anos de 2006 e 2009 no ensino regular na Sala de Arte do Colégio de Aplicação. Nesta postagem apresentamos o projeto "As Diversas Faces de Cristo".

JUSTIFICATIVA:

O projeto “As Diversas Faces de Cristo” surgiu da necessidade de abordarmos temas ligados a História da Arte Medieval com nossas turmas de 7º ano do ensino fundamental. Nossa principal dificuldade era relacionar a produção artística do período medieval com a produção dos nossos alunos. Optamos por focar nossa análise no caráter sacro da produção medieval por ser essa a mais relevante característica da produção artística desse período e escolhermos como elemento agregador, que proporcionou a geração de uma ponte entre a produção artística do período medieval e a proposta de produção de imagens que apresentamos a nossos alunos, as diversas representações do rosto de Cristo. Essa proposta permitiu uma pesquisa iconográfica nas diversas imagens (pinturas) que foram criadas ao longo da história, por vários artistas plásticos e que passaram a fazer parte de nossas vidas, do nosso repertório iconográfico como imagens sacras, criadas para representar o rosto de Jesus Cristo. Justifica esse projeto a necessidade de relacionar o estudo da arte medieval, com elementos artísticos atuais e adaptar esse estudo às modalidades artísticas que poderiam ser desenvolvidas pelas nossas turmas. Outro fator preponderante para a justificativa do projeto foi à possibilidade da compreensão da construção histórica de imagens que se tornaram ícones da fé cristã. Desde as pinturas das catacumbas que já indicavam o comprometimento entre a arte e a doutrina cristã, comprometimento esse, que será cada vez maior e se firmará na Idade Média, até a busca de realismo na representação dos seres nas obras pintadas pelos artistas góticos e que prenunciaram o Renascimento.

OBJETIVOS:

Geral:
• Proporcionar um conhecimento da arte medieval, em especial do seu caráter sacro, e entender a estreita relação entre arte e religião na Europa ocidental durante a Idade Média.

Específicos:
• Identificar as principais características da produção artística da Europa medieval;
• Voltar o olhar para o acervo de imagens relacionadas à religião católica, produzidas por artistas plásticos ao longo da história, e que se tornaram ícones da fé Cristã;
• Produzir trabalhos em artes visuais tendo como referência histórica a produção artística sacra do período medieval e como modelo (para a releitura) uma obra que represente o rosto de Cristo;
• Entender a importância dos artistas plásticos no processo histórico de construção de imagens e a sacralização e utilização dessas imagens pela igreja católica na catequização dos fiéis ao longo dos séculos;

CONTEÚDOS CURRICULARES:

A arte do período medieval:
• Arte Românica
• Arte Gótica



METODOLOGIA:

Todo o nosso planejamento pedagógico teve como base a visão triangular do ensino de Arte: o fazer, o refletir e o contextualizar a produção artística estudada e a produção dos próprios alunos. Iniciamos trabalhando a contextualização histórica do estilo românico e analisando as principais características da produção artística do período medieval. Organizamos nosso cronograma de execução considerando que tínhamos quinze horas nesta unidade, divididas em dez encontros de noventa minutos cada. Para essa primeira etapa, reservamos dois encontros e utilizamos recursos gráficos (reproduções de igrejas européias, de pinturas e esculturas do período), recursos audiovisuais (materiais coletados na internet) e textos sobre o tema. Nessa etapa apontamos a importância do conhecimento da divisão do Império Romano em dois: Império Romano do Ocidente, com capital em Roma e Império Romano do Oriente com capital em Constantinopla (antiga Bizâncio). Chamamos atenção para o posterior desenvolvimento da arte bizantina pela importância que exerceu e a grande contribuição de seus sábios para a formação das idéias renascentistas. Apontamos as grandes propriedades agrícolas, com seus senhores feudais poderosos, como sendo a base de produção do período. Isto queria dizer que terra significava poder. Destacamos que esse fato provocou um deslocamento da vida social para o campo e gerou um processo de decadência das cidades. A igreja católica assumiu, então, o papel de detentora, da preservação e da transmissão da cultura antiga. Desta forma, as poucas escolas que existiam eram monásticas, ligadas a igreja e formavam para o clero. Em relação a arte, a igreja passa a ser também a única instituição que contratava artistas para trabalhar em seus projetos. Construtores, carpinteiros, marceneiros, vitralístas, decoradores, escultores e pintores eram chamados para trabalhar nos únicos edifícios públicos que eram construídos na época: as igrejas.
Ao final do primeiro encontro solicitei aos alunos que fizessem o mesmo que eu e realizassem pesquisas sobre o tema utilizando para isso os recursos que possuíssem: internet, livros de história, livros de arte, revistas, outros meios. No terceiro encontro, já com os alunos tendo em mãos as pesquisas realizadas, começamos buscando apontar uma definição para o termo arte românica. Concluímos tratar-se de um termo usado para classificar diversos estilos artísticos espalhados na Europa Ocidental durante os séculos XI e XII. Percebemos que a divisão de grande parte da Europa em feudos impossibilitava a formação de uma unidade política e, conseqüentemente, de uma unidade artística. Existiam vários estilos românicos que embora possuíssem elementos semelhantes, possuíam também um número bem maior de diferenças. Notamos que o único ponto comum entre as diversas manifestações artísticas classificadas como românicas era o mesmo sentimento religioso e concluímos que a arte românica foi uma arte essencialmente sacra, isto é, voltada para a igreja e para as coisas de Deus. Durante a pesquisa encontramos diversas referências as cruzadas e decidimos ampliar nossa pesquisa para esse termo também. Descobrimos que as Cruzadas são tradicionalmente definidas como expedições de caráter "militar" organizadas pela Igreja, para combaterem os inimigos do cristianismo e libertarem a Terra Santa (Jerusalém) das mãos desses infiéis. O movimento estendeu-se desde os fins do século XI até meados do século XIII. O termo Cruzadas passou a designá-lo em virtude de seus adeptos (os chamados soldados de Cristo) serem identificados pelo símbolo da cruz bordado em suas vestes. A cruz simbolizava o contrato estabelecido entre o indivíduo e Deus. Era o testemunho visível e público de engajamento individual e particular na empreitada divina. As cruzadas encarnavam a energia religiosa daquele tempo. Esse diálogo com a turma foi bastante proveitoso e chegamos ao final com várias conclusões a respeito do modo de vida das pessoas e da arte produzida na Idade Média.
Para entendermos melhor, no quarto encontro, utilizamos recursos audiovisuais: selecionamos cenas do filme “As Cruzadas” do diretor RIDLEY SCOTT, 2005, que ajudaram na compreensão da forte influência da religião na vida da população daquele período. Percebemos o poder das imagens criadas para narrar cenas, trechos, passagens da bíblia ou da vida dos santos, que facilitavam, em muitos casos permitiam, ao fiel o conhecimento sobre a bíblia ou a vida dos santos de quem era devoto. O grande número de analfabetos, a quase total ausência de escolas, o discurso apocalíptico dos representantes da igreja, assim como, uma reação hostil e violenta a todos aqueles que ousaram desafiar os dogmas católicos, gerou um ambiente supersticioso, repleto de verdades absolutas e medos. Quanto às artes, as técnicas artísticas foram conservadas nas igrejas e mosteiros através do desenvolvimento de iluminuras que ilustravam os poucos livros, principalmente a bíblia, que eram manuscritos naquele período, através das pinturas murais realizadas nos interiores das igrejas e mosteiros e, sobretudo, na ourivesaria (relicários, cofres, estátuas). A pintura Românica teve pequena expressão. Em alguns casos, as cúpulas das igrejas possuíam pinturas murais de desenhos cujos temas mais freqüentes abordavam cenas retiradas do Antigo e do Novo Testamento e da vida de santos e mártires, repletas de sugestões de exemplos edificantes.
Os quatro encontros seguintes foram reservadas para a realização da atividade prática proposta. Considerando a forte influência da igreja, através da fé da população, na produção artistica e cultural do período estudado e tendo a arte esse carater pragmático, totalmente direcionada para a fé cristã, propomos a execução do projeto “As diversas faces de Cristo” objetivando relacionar nossa produção de arte, trabalhos dos alunos, com a produção de arte do período medieval. Consistiu na seleção de uma reprodução do rosto de cristo (os alunos tiveram total liberdade na escolha e na fonte da pesquisa), que foi ampliada, através de técnicas de desenho e colorida com pequenos pedaços de papel, formando mosaico.



Essa parte prática foi dividida em três etapas:

• 1ª etapa – iniciamos solicitando aos alunos a realização de uma pesquisa iconográfica. O objetivo foi selecionar uma imagem (reprodução) que representasse a face de Jesus Cristo. Foi solicitado também que tentassem identificar o artista produtor da imagem (o que nem sempre foi possível). Essa etapa os alunos realizaram sozinhos e utilizaram diversos recursos: internet, livros, bíblias, calendários (folhinhas), revistas, etc..

• A 2ª etapa consistiu no processo de quadricular a imagem escolhida pelo aluno para uma posterior ampliação e transferencia para uma folha de papel maior (papel canson tamanho A3). Aqui surgiram as primeiras dificuldades: o discurso constante do aluno de que não sabe desenhar; a persistente negativa “eu não sei fazer”. Propusemos a retomada da busca do desenho do aluno. Valorizamos o conhecimento sobre desenho que os alunos já possuíam e estimulamos o ato de desenhar como algo essencial ao processo de desenvolvimento da linguagem. Mais confiantes e seguros, partimos para a ampliação da imagem. Essa etapa, realizada em sala de aula, foi acompanhada e orientada por nos, por exigiu do aluno atenção e respeito as proporções e formas das imagens. Após essa tarefa todos os alunos das turmas possuiam uma imagem ampliada, segundo suas possibilidades e domínio técnico de desenho, da face de Cristo construída apartir de um referencial histórico, uma pintura. (em alguns casos, não foi identificado o autor da pintura)

• A 3ª etapa consistiu no preenchimento da imagem com pequenos pedaços de papéis coloridos que foram reaproveitados de revistas antigas, fomando diversos mosaicos com diferentes representações de Cristo. Iniciamos separando as cores por tons diferentes o que permitiu uma variação cromática da mesma cor gerando uma atmosfera dinânica nas obras produzidas. Em seguida, os trabalhos foram emoldurados com tiras de papel branco e papel madeira (o branco formando o paspatur e o papel madeira formando a moldura do trabalho). Todo esse zelo com o acabamento dos trabalhos deve-se ao fato de que toda a produção anual dos alunos é apresentada no final do ano durante a realização da “MOSTRARTE” mostra de arte do colégio e que foi criada por nós no ano de 2006.

AVALIAÇÃO:

Os dois últimos encontros reservados para esse projeto consistiu na apresentação e análise dos trabalhos e na avaliação escrita. Primeiro, um a um, os alunos apresentaram a imagem original que serviu de modelo para a releitura e a obra produzida por eles. Falaram também sobre as principais dificuldades encontradas, a escolha das cores utilizadas e citaram fatos curiosos acerca do processo de produção da obra. Responderam também a perguntas dos colegas (foi bastante engraçado esse momento, algumas trabalhos diferenciaram muito do original o que provocou comentários ilários por parte de alguns alunos). Realizamos também, prova escrita contendo questões dissertativas que exigiram dos alunos a capacidade de escrever, seguindo um raciocínio lógico, e questões objetivas de verdadeiro ou falso, ambas sobre a arte no período medieval, correspondendo a 50% do valor total da nota. As provas escritas individuais visaram avaliar a aprendizagem dos aspectos relativos à história da arte. Os outros 50% da nota foi a avaliação acompanhada onde o aluno foi avaliado individualmente a cada aula, objetivando analisar o seu desenvolvimento e a participação do mesmo, nas atividades e tarefas propostas, assim como, a conclusão e a apresentação da obra criada.

Foram essas as etapas da avaliação:

• Pesquisa individual sobre a arte medieval. Analise e discursão dos dados encontratos apontando as principais características da arte desse período;
• Pesquisa iconográfica para seleção da imagem (rosto de Crito) que serviu de modelo para a confecção da releitura da obra;
• Desenho ampliado da imagem modelo (representação do rosto de Cristo) para outro suporte (folha de papel canson A3) e a posterior realização de mosaico com pequenos pedaços de papéis coloridos reaproveitados de revistas antigas;
• Acabamentos nos trabalhos (paspatur e moldura de papel);
• Apresentação e análise da obra produzida para toda a turma;
• Prova: questões objetivas e subjetivas que versaram sobre o conteúdo estudado;

É interessante salientar que ao abordarmos o comportamento da igreja católica durante o período medieval, com seus pagamentos de indulgências, suas guerras santas (cruzadas), a aceitação da brutalidade como natural, seu ambiente mistico e supersticioso e suas perseguições, acabamos sendo muito incissivos em nossas colocações, expondo nosso ponto de vista sobre os fatos, o que gerou, em alguns momentos, diálogos acalorados sobre a fé e o papel histórico da igreja católica. Esse fato permitiu uma reflexão de nossa parte sobre como abordar essa questões sem expô diretamente nossa opinião sobre os fatos. Outro ponto relevente que acreditamos deva ser citado foi o fato de imaginar que todos aceitariam com facilidade o desafio da ampliação da pintura. Mesmo com a técnica do quadriculado, que permite uma ampliação com bom grau de precisão, foi bastante difícil convecer alguns alunos a realizarem a tarefa. Percebemos nestes, um certo “bloqueio” quanto ao desenho. (cabem profundas reflexões esse fato). Assim, o resultado final dos trabalhos apresentou alguns que se afastaram muito da obra original que serviu de modelo.

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